domingo, 1 de novembro de 2009

Fases




Fases
Águida Hettwer


A criança que vive em mim, faz manha para não querer dormir. Ainda é cedo para a realidade. Mesmo sentando-me alinhada, vestida a rigor de colégio de freiras, compenetrada nas lições. Prefiro a interrogação a o ponto final. De água benta, banhava a fronte em respeito à tradição. Talvez quisesse quebrar as regras, sem ter noção.


O peso da xícara de chá faz-me dosar o afeto contido, nas histórias que ouvia na companhia das minhas ilusões. Entre as lascas de lenha queimando ainda restaram fagulhas de emoções. Acima do rústico fogão, varais estendidos de lembranças. Nas arestas do tempo, o pensamento desenhava as linhas no papel.


Bordando vozes e cenas, vou contando casas, nos quadrados de cânhamo das minhas inquietações. Quisera no pátio da infância pisar fora da calçada, sem que a mãe ralhasse, por tanta proteção. Permitindo-me esfolar o joelho, caindo de bicicleta até aprender. Dando asas ao sonho, sem medo de sofrer.


Mesmo com tanto reparo, não me converti às tragadas do cigarro, foi apenas curiosidade que dá e passa. Lembro-me, com riso no canto dos lábios, juntava a mesada, para comprar camiseta de “Metaleiro”. Hoje nem de brinde no um e noventa e nove, não usaria. São as fases da vida!


Contando até dez, brinco de esconde-esconde com as letras. Faço careta para o mau-humor, desafio a monotonia, rezando um terço pela vida. Aprecio o silêncio demorado da memória, onde minhas doces lembranças não envelhecem no porta-retrato do tempo.


30.06.2009

Prisma




Prisma
Águida Hettwer


O amor debocha com a vergonha, faz passeata, pinta a cara, exige direitos autorais nos livros da consciência. O papel pensa em voz alta, solta os fantasmas que estavam presos. É a isca e o anzol da relação. Não se faz de rogado, permite-se a ultrapassar as barreiras.

Uma vida a dois, são duas vidas unidas em laços, mas nem por isso perdemos os gostos e os paladares. Cada um possui a sua identidade e digital, no código de barras da existência. Apreciamos cores de diferentes matizes, torcemos por times opostos, um gosta de doces, o outro tem apreço pelo salgado. Uns acreditam que a vida começa aos quarenta anos, outros morrem no casamento.

Fazem de escudo os próprios filhos, deixam de concretizar sonhos, por eles e por causa própria deles. Assinam o testamente antes da hora, e doa-se a usufruto. Reprimem-se, ao serem elogiados, as vogais e consoantes lhes são estranhas, pois são acostumados ao descaso. Em prol da felicidade alheia, esquecem da sua.

A vida passa lenta e em fila indiana, mas quando se percebeu os passos não tem o mesmo vigor de outrora, no entanto a caminhada continua. No lar, muitas vezes os herdeiros já se foram, cada um cuidar dos seus afazeres. Restaram apenas às confissões das paredes, o canto da mesa riscado, o abajur quebrado. E a solidão interior permanece mesmo nos almoços de domingos.

Despedimo-nos da vida, ao deixar que os desejos reprimem-se nas gavetas, confinados ao medo. Quando se gosta de alguém, em prismas paralelos, o incentivo vem antes da aprovação, há zelo na ponta dos dedos, doçura na saliva, mansidão no palavrear. Quando se ama, espelha-se um no outro, sem alterar a legenda que cada um carrega no olhar.


04.07.2009

Abrigo-me






Abrigo-me
Águida Hettwer


No frio da ausência,
O papel sem palavras,
Emudece empalidecido
Chora em busca de Ti.

Onde pousa teu olhar,
Diga-me!...Onde?
Vejo-te em todas as asas,
Cruzando os céus.

Visto-me de poesia,
Passeio em teus jardins,
Sorvo-te até o pólen,
Sirvo-me do teu mel.

Desfaleço e revivo,
Em tuas mãos
Artesãs de afeto,
Abrigo-me...


07.07.2009

Para fazer alguém feliz...




Para fazer alguém feliz...
Águida Hettwer

Não precisa muito aparato, nem pagar promessas, ou fazer mágica tirando da cartola um mundo de ilusões. A felicidade na maioria das vezes, escora em nosso ombro, faz peso e não nos damos conta disso. Lembre-se lá do pátio da infância, como era fácil ser feliz quando éramos crianças.

Juntávamos uma porção de quinquilharias, jogava pinica com a garotada, trocava figurinhas de jogadores da época, ralhavam os joelhos, na tentativa de aprender a andar com a sua “Caloi” a sensação do momento, e hoje em dia, sonha com o “Carrão do ano”, para conquistar a “mulherada”, por pura exibição e massagem no ego.

Vestia-se com as roupas da irmã mais velha, compradas em alguma loja que vendia,
“a quilo” ou em promoções, adquiria-se uma peça e levava duas, pelo mesmo preço de barbada, e na sua sã concepção parecia estar desfilando na passarela do “Fashion Week” ao lado do Gianecchini.

Na atualidade, compramos futilidades, para preencher o grande vazio da alma, pagamos um alto preço nas etiquetas, por modismo barato e sem nexo e continuamos ocos por dentro, buscando substituir em coisas materiais, para amenizar as frustrações do acaso.

E tudo era maravilhoso, como achar uma agulha no palheiro, para poder costurar o casaco rasgado. E quando estávam “apaixonados”, que beleza, não é mesmo, ganhar um sorriso, faltando “aquele dente de leite” da frente, era o mesmo, que acertar na loteria esportiva sozinho.

E quando a mamãe esquecia que já estava escuro, e as brincadeiras se prolongavam até mais tarde, e pra você nunca era tarde, para dar continuidade nos seus projetos importantes. E cansado, adormecia, sem tomar banho, e tudo lhe cheirava bem.

Sem reclamar da vida, avistavam novas perspectivas, num simples gesto, no partilhar de um pedaço de bolo de fubá feito pela vovó, do qual na época você achava “um manjar dos deuses” e hoje no mais sofisticado prato, disfarça que era tudo que queria degustar. Afinal é chique comer pouco, e tomar chá às cinco horas, numa pontualidade britânica de dar inveja.

Lembra-se, quando apanhava frutas na cerca vizinha, e tinha o doce sabor da simplicidade nas mãos, e era feliz, sem questionar tanto a vida, sem reclamar de pequenos detalhes, das contas á pagarem, graças aqueles que as tem, significa que está prosperando e levando a vida adiante.

E nos damos conta que a única herança que podemos deixar, é as palavras concisas na hora certa, o silêncio precioso, quando o outro fala, a humildade de aceitar o que no momento não pode ser mudado e viver feliz com aqueles e com aquilo que se tem de concreto nas mãos.

A vida é bela, para todo aquele que, não perdeu a doçura da infância, faz de pequenos momentos, grandes acontecimentos.

A vida lhe sorri hoje, abra as janelas!

09.07.2009

Saudade, em voz poética...





Saudade, em voz poética...
Águida Hettwer


O amanhã nos adverte que a comédia da vida explorada, está apenas ensaiando o capítulo. No silêncio que medita, não falsifica a história pelos avessos, relata de cara lavada, sem atenuar as marcas, sem fechar a porta para o passado.

Onde os anseios, nos acordam com volúpia, e assim enrodilhados no poncho dos sonhos, nos descobrimos “gente”. Soltando o verbo imperfeito, no sopro de lirismo ganha força, amenizando as dores da alma em voz poética.


Sem pedir benção, adentra a casa e faz morada, passional, não admite 3° pessoa no plural. Cativa para si à profecia, de um amor na íntegra, sem partilha de sentimentos a alheios. Sonda as entranhas, exprime em lágrimas, em saudade derrama-se.


A falta corrói pelas beiradas, risca na pele com giz de cera, faz do corpo, um porto de sensações, transcende a naturalidade dos fatos. Vira notícia, na primeira página, num discurso de linguagem nata. Agarra-se nas tranças do vento, eleva o sentimento aos céus.


Em desfecho editado na alma, sem aliviar a carga dramática, toma o rumo do coração. Persuadindo a ciência, conversa com o espírito em interação, num espiral de palavras profusas. E as dúvidas sejam as certezas do amanhã.

Despede-se a ansiedade, no abraço que envolve, nas carícias de perder o juízo, na voz embargada de saudade, murcharam as dores, despertaram sorrisos.



13.07.2009

No chão da memória





No chão da memória
Águida Hettwer


Quanto mais fujo das lembranças, mais elas me perseguem nas esquinas da memória. Meu olfato atiça num chiar da chaleira, no aroma roçando a campina, embrenhando-se num céu azul de anil. Retorno sempre no primeiro ponto, aonde balançam os dourados trigais de Horizontina.

A terra vermelha encardiu minh´alma, aqueço-me ao redor do fogão à lenha, até as brasas, atingirem as cinzas. As letras brincam de boneca, com os amigos de infância, correm pela rua, atrás de vaga-lumes, rolam-se na grama, conversam entre si em plena sintonia.

O inverno chega mais cedo na infância, escrevo sob a película de geada no pára-brisa dos carros, as folhas cor de sépia forram o chão, arrastam os anseios, feito pássaros libertos de gaiolas. As portas das casas não têm tramelas, a passagem é livre, sento-me na cadeira de balanço de antepassados, concentrada ouvindo histórias.

No birô da memória, os livros têm cheiro de folha de laranjeira, nas páginas brotam sonhos, expondo das raízes ao caule. Como se a vida estivesse embrulhada em papel presente, e ao receber, rasgasse com avidez, em declaração de fé anunciada.

A alma cultua gestos simples, por mais que a vida esteja exposta às intempéries, as letras me proporcionam brincar no parque da infância, vozes, risos e palmas são misturados. Rangendo balanços de esperança, de uma geração futura, menos cibernética, e mais atuante.

As vestes guardam a poeira das brincadeiras, no chão da minha memória, permanecem os farelos de pão. Aonde somente é varrida a rotina, as histórias ficam.


17.07.2009

Genuína amizade





Genuína amizade
Águida Hettwer

Quando se tem amigos, as palavras não se perdem no silêncio, na geografia da alma sempre tem espaço para mais um. Vozes gêmeas entoam canções, embalando sonhos. Mãos entrelaçam pela mesma causa, e corações pulsam no mesmo ritmo.

A amizade cultua gestos delicados, empresta o ombro, doa-se um colo a quem precisa. Acalenta as dores, no calor de um abraço, seca as lágrimas, com clareza conduz ao caminho certeiro, mostrando as flores e os espinhos. Admoestando com amor, revelando a verdade, apontando soluções.

A genuína amizade, incentiva, estimula e vibra, senta-se na primeira fileira para aplaudir de pé as vitórias e conquistas dos amigos. No corredor do pensamento, os amigos emolduram cenas juntos, cativam momentos onde o tempo, não consegue separar.

Nas amizades os desacertos, implicam a nós, exercitarmos afeto, paciência e companheirismo. Quem nunca disse um “sim” a um amigo, querendo dizer “não”. No manto da amizade, mistura-se estabilidade com ansiedade, faz reboliço com os sentimentos, traz calmaria ao estender as mãos.

Na pupila da amizade, amenizam as falhas, acentuam-se as virtudes, deita-se em tapete de cumplicidade, alarga-se compreensão. Guardam-se segredos na alma, desvendam-se mensagens subliminares, deixadas no olhar.
Do silêncio faz-se o grito, do riso partilhado se faz procissão.


As amizades não morrem... Apenas, alçam voo para rumos diferentes.


20.07.2009

Da infância carente a excedente






Da infância carente a excedente
Águida Hettwer


A história é longa, e não é de hoje em que buscamos soluções para doença crônica da miséria humana, especialmente aqueles inocentes que não pediram para vir ao mundo. Apenas são colocados no centro dele, e como se dissesse a eles, “se virem agora”.

Nos porões obscuros da pobreza, não é somente a barriga que ronca de fome, a própria situação faz com que famílias, vivem no que chamamos de “inferno aqui na terra”. Violência doméstica, falta de recursos sanitários e higiênicos, ambiente sobrecarregado e no meio disso tudo, “crianças” que serão o futuro que chega logo ali.

Quantas famílias vivem no limiar da fome da miséria, e continuam procriando, filhos do descaso. Apontar o dedo, não é tarefa difícil, mas o que precisa ser feito, para amenizar essa triste sina. A cultura de um povo retrata seu legado de glória. Na escola da vida, aprendemos a ser gente e ser cidadãos.

Não basta aprender a soletrar e nem calcular, a educação vai além, e rompe as barreiras da desinformação, que gera mentalidades brilhantes. Conseguem se superar mesmo vindo de raízes humildes e sem recursos. Um povo culto e informado consegue ter visão das coisas ao seu redor.

Aqueles cujo poder foi lhe concedido nas mãos, a tarefa de amenizar a situação. Promovendo instituições, onde o menor carente tenha espaço garantido à educação, alimentação, recursos básicos para infância decente e feliz. E nós cidadãos, o dever de lutar por esses direitos. Para que não sejamos vítimas de uma geração de abandono e falta de recursos.

Qual é a criança, que não tem sonhos, no pátio da infância?

-De poder brincar, de barriga saciada, de calçados nos pés, de roupa lavada e cheirosa. Vivendo num ambiente harmonioso, asseado, onde a educação começa pelos pais.

Para que não sejamos cárceres de uma geração revoltada, precisamos fazer a nossa parte.

Não é utopia... Realidade viva e atuante, para aqueles que fazem da educação o seu lema de vida.



22.07.2009

Amor maduro





Amor maduro
Águida Hettwer


Até parece que foi ontem que brincávamos de ciranda, os cânticos ainda ressoam vozes de infância. Momentos enfeitaram a face de marcas, fingimos não seguir a linha do tempo. As mãos calejadas guardam sinais, entrelaces de vidas. Ainda o olhar busca a serenidade que falta no palavrear.

Os passos perderam o vigor, mas não perderam o rumo. Apoiando-se no largo ombro, como se ainda ouvisse histórias onde o final é feliz. Contando segredos, com um gesto, ajeitando os prateados cabelos, feito sonhos que não deixou morrer por medo.

Sondando os anseios, como quem virando uma página, dá continuidade ao assunto. Uma releitura da alma, com direito a novos traços e siglas. Há tanta doçura nos lábios, pedindo atenção, há tanto desejo insistindo a aflorar. Infusão de maturidade e rebeldia no ato de amar.

Enquanto um descansa em sono reparador, o outro, aconchega sonhos na pálpebra. No salão da imaginação, são apenas duas áureas a bailar. Nenhum vestígio foi apagado, há digitais no corpo, das noites onde adentravam em carícias.

No amor maduro, perdura a compreensão, há pausa entre as vírgulas, descrição nos comentários, sabedoria nos atos, reticências nos olhar. Onde os relacionamentos não precisam ser discutidos, apenas carecem de colo e conforto de ideias.

Em zelo impermeável, abotoa-se o casaco, como se fosse de um filho. Agasalham-se com ternura um ao outro, inclinam-se para beijar novamente, para retardar a despedida.

No auge do frescor desse amor, a natureza contribui, no perfume delicado da flor, no barulho da chuva batendo no telhado, no sol que se espreguiça cedo, cultuando a vida, as cores e os amores que não morrem nas trocas das estações.

Um amor assim, como diria o poeta, que fascina e encanta não se desfaz em detalhes, sem ser extremista, pede licença e adentra. Refaz-se no amor, sendo espelho da sua própria existência.



27.07.2009

Desaprendendo...




Desaprendendo...
Águida Hettwer


Num divã a memória faz regressão, no cordão umbilical, inicia-se um novo ciclo. As lembranças passam de raspão pela quina, ainda restam os farelos do pão sobre a mesa. As marcas ficaram como quem conta um segredo ao ouvido.

As rendas enfeitam as beiradas, mas não adornam a solidão, de uma toalha alva e vazia. Sem manchas de café derramado, na distração das conversas e risos de uma família. Sem o leite entornado das crianças, e respingos de molho pelo chão.

As cartas seladas ainda guardam o sabor da saliva, no envelope o tempo passou despercebido. Na caixa de costuras, há retalhos de vidas. Cortadas em tiras ainda por emendar. O alinhavar da saudade pisa nos calos e faz doer à alma.

União de silabas contadas, escorrem da escrita, onde a alma devaneia sem medo, inspirada nos segredos da noite. O tempo cicatriza as mágoas, soluçam os pensares, deságua em rios de lágrimas.

Em verbalização de infância, sentir-se amado, vai além das regras, criam raízes. As visitas se estendem depois de cada domingo, um telefone na madrugada, perturba apenas a solidão, mas para quem o recebe é sinal de zelo.

No quintal da memória, brinca-se ainda de roda e de esconde-esconde. Convertendo olhares ao mesmo luar, em dose de segurança quando as mãos entrelaçarem, afugentando assim, o medo de ser feliz. Em caudal de amor, há doce prenuncia.

Dar o primeiro passo em direção do abraço, estender os braços e o corpo inteiro. No amor não há preconceitos, e nem mandamentos concretos a serem seguidos à risca, tudo é válido desde que tenha desprendimento de ambos.

Na simplicidade de um gesto de carinho, medimos um mundo enrodilhado de calor humano, colhemos de herança, vida partilhada em abundância. Como se nascessem de novo, e pudessem desprezar os erros cometidos, desaprendendo. Para aprender, no entendimento de que em cada erro ouve intenção de acerto.



03.08.2009

Vencedores e vencidos...





Vencedores e vencidos...

Águida Hettwer

Nada mais brilhante do que a memória de alguém bem vivido. Cada pequeno detalhe soma-se a outros, num livro sendo escrito dia após dia. Oposto para alguns onde a vida passa despercebida pela janela trancafiada da alma, não se vê o viço das flores, e nem o perfume que embriaga. As lembranças incrustam de pó e manchas de mágoas.

Quem nunca teve medo de escuro, que acenda primeiro a luz. Entre tantas escolhas, por receio das conseqüências, deixamo-nos envolver pela cortina do comodismo. Temos a desculpa na ponta da língua, o tempo, a idade, os filhos, os pais, enfim, uma infinidade de objeções.


O tropeço não se limita em quedas, vem muitas vezes para nos encorajar a seguir um novo rumo, e descobrir o potencial que estava adormecido. Por falta de estímulo, não se perde uma guerra. Usa-se das armas que tem em mãos, a criatividade liberta e intensifica, a ousadia sobrepõe.


O bem-sucedido levanta-se cedo, põe em pratica os rascunhos do papel, conclui as tarefas do dia. A inércia anda em círculos, e não sai do chão. Senta-se nele para reclamar, e culpar os outros por sua condição.


Os vencedores, mesmo na humildade enfeitam a casa, zelam por seus pertences, cultuam a boa educação dos filhos. Nos vencidos, o zelo, o adorno, enterram no comodismo.

No espetáculo da vida que se inicia a cada novo raio de luz, somos o palco, os protagonistas, a platéia animada, trabalhando e lutando, nessa jornada terrena. Na esperança que nos move a seguir em frente, de dias melhores para toda gente.

Feito criança, seguramos nas paredes, arrastamos sonhos, caímos, levantamos. Equilibrando-se na corda bamba da vida, rindo, chorando. Sentimo-nos seguros quando alguém estende os braços e diz: - Vem!

Somos aprendizes nessa passagem, quantas vezes o sol queimará a face, e o frio errepiará a pele, até cumprir a missão. Confessar fraquezas, não significa desmerecer os méritos. Os grandes homens da história, por muitas vezes se enganaram, quebraram regras, usaram a ousadia de várias formas e fizeram à diferença.

Os vencedores não se entregam em uma luta. Os vencidos sentam-se acomodados, aguardando apenas a morte bater nas costas.

07.08.2009

A alma em gomos...




A alma em gomos...
Águida Hettwer


Descasco a alma em gomos, para compor um verso. Faço-me de vítima, para arrancar uma lágrima, viro-me do avesso, me multiplico em mil faces para extrair um riso, mesmo que tímido. Talvez desvende meus segredos, quando saio de mim.

A noite conversa com o luar, em prosa originária. Sem decorar a letra, a musicalidade flui leve e solta. Anelando a palavra rude, em elogios ao ego, num sopro de vento que me distrai. Costurando remendos nas brechas rasgadas da alma, estendo os anseios nos varais nos fundos de casa.

Dou comida aos pássaros no para-peito das janelas, ciscam lentamente, como o piscar dos olhos. Na profundidade de um mistério, releva-se sensibilidade, em síntese da personalidade. Em face retocada pelo tempo, olhar marejado de silêncio.

Os cadernos de caligrafia guardam emoções arredondadas, colam cacos de vidraças quebradas, peraltices de crianças mal amadas. As antigas casas preservam vozes entre um cômodo e outro. No chão riscado, há traços de vidas cruzadas.

As madrugadas resguardam vestígios de febre, de cobertor embrulhado de gente, de xícara de chá, limão e mel para conter os espirros. No armário da cozinha, faltam caixas de remédios, para curar o tédio e noites mal dormidas. Há espaço sobrando na mesa, nos ombros e no peito. Na porta bateu apenas o vento das lembranças. Ninguém arrisca sair de casa em dia de chuva.

Nos porões entreabertos da memória, as cigarras cantam para embalar o sono e distrair a tristeza. As lembranças conversam entre si, no silêncio esparramado. Saudade do aconchego de um corpo morno, enrodilhado em sonhos.


11.08.2009

Não adianta...




Não adianta...

Águida Hettwer


A noite coberta de silêncio, sendo que os passos pisam no mesmo território do descompasso. Não adianta comprimir a lágrima, pois ela na sua rebeldia, teima em cair. E os frascos de perfume guardam na sua essência, cheiros do meu corpo colado ao seu.


Não adianta fingir, que não ouve os clamores da alma, que a pele não suplica por ternura. Os lábios têm fome de desejos, dos quais, eu e você soubemos suprir. Pouco importa se as palavras perderam o sentido, se nos entendemos em uma linguagem unilateral, falada em gestos, cumplicidade e muito amor.


Não adianta procurar saída, cruzar linhas, encurtar caminho. O que está escrito nem o tempo e o espaço conseguirá apagar. Nem o frio da distância atinge-me, o amor cobre-me com um manto santo inexprimível.


Não, não adianta! Abafar o riso, encurtar a reza, arrancar as folhas rabiscadas do caderno, tudo está revisado e editado na alma. E nem adianta colher os verdes trigais, antes da hora, eles amadurecem na memória, sem nenhum esforço.

Pouco te adianta, a pressa no falar, as mãos gesticularem, no anseio abarrotado para abrir uma garrafa de vinho. Visto-me de letras, para que me possa ler com calma em teus silêncios em frente à lareira.



14.08.2009

Nas grimpas





Nas grimpas
Águida Hettwer

A minha desatenção justificada acompanha-me desde a infância, lembro-me das férias prolongadas do final do ano, onde ia visitar meus tios no interior. Andar de ônibus era coisa rara e entretida na paisagem, não me dava conta do tempo passar.

Ecoam vozes no sitio da infância, o frescor das matas, o barulho das águas, o pó da estrada, fazendo companhia das charretes, carregando gente. Costeando as plantações de soja, milho e trigo. O que dividia as propriedades eram as cercas farpadas, onde atravessávamos sem muito esforço.

Sob as inúmeras recomendações da mãe, os cuidados para não me estender no sol, na grama e na vida. Pedia licença até para respirar o ar puro. Por lá me aventurava nas singelas brincadeiras, sentávamos em uma reforçada tábua de madeira e empurrados descíamos potreiro abaixo.

Colhíamos as frutas das grimpas, pitangas, amoras pretas e ameixas. Sentada na sombra do Plátano, ao longe avistava o Rio Uruguai, o pensamento atravessava a fronteira de caíco, remava contra o tempo.

Atentamente observava a lida, a terra talhada em frisos, às sementes lançadas e após alguns dias germinadas. A horta cuidada por mãos zelosas, no ar o cheiro de hortelã. Na frente das casas jardins coloridos com dálias, gérberas e margaridas.

O dialeto diferenciado do povoado me intrigava. Algumas palavras a minha imaginação completava. Há lenha de reserva, enquanto as brasas queimavam, as histórias folheavam páginas ao pé do fogão. Ainda guardo no paladar os sabores da infância. O bule de leite e café fervia e perfumava o lugar, a mesa posta com pão de milho e geléia natural.

No território da alma, o tempo lavrou, adubou a terra, germinou flores de rara beleza, onde perfumam os meus silêncios até o momento...



17.08.2009

Entregues...





Entregues...

Águida Hettwer


Nas asas do inatingível,
Nossas almas se tocam,
Curam o estreito vazio,
Acendendo o braseiro.

Nivelando os anseios,
Na aragem fresca do luar,
Somos dois seres a vagar,
Um só coração a pulsar...

Nas mãos o perfume de Ti.
Vislumbro o amor em teu olhar,
Quebranta a lágrima de saudade,
Faz-me, na angustia penar.

Pinta e borda sonhos e encantos,
Na gravidade dos tempos,
Entregues a loucura e desejos,
Em lábios de veludo acetinado.

Na voz oscilante emocionada,
Despi as palavras em pétalas,
No amor que dura além da vida.


19.08.2009

Senhorio destino




Senhorio destino
Águida Hettwer


Entre retalhos teci sonhos,
Senhorio destino em nova era
Estrangeira de minha terra,
Num horizonte em desalinhos.

Verdade santa batizada,
Por teu amor eterno encanto!
Melodia etérea decifrada,
Norteiam emoções em decanto.

Em manifesto a alma reclama,
A saudade, flamejante chama,
Que ainda no peito arde,

Em rendição dos sentidos,
Na exaltação do amor
Em mim vivido.


24.08.2009

Para que haja paz...





Para que haja paz...
Águida Hettwer

Se não houver amor nas ações,
De nada adiante enumerar
Estratégias, protocolos inválidos,
Para promover a paz no mundo.

Se não tiver coração disposto,
Para mudanças e conversão
Do caminho errante, perde-se,
Tempo com palavras vãs.

Se não houver...
Humildade de espírito,
Mansidão na alma,
Misericórdia no olhar.

Para que haja paz!
Entre os homens,
O amor, base fundamental,
Das esferas do mundo,

Seja cultivado e enaltecido
E edificado em cada ser vivente.
Haja paz, para que lágrimas,
De dor sejam extintas.

E a alegria de viver aflore!
Em matizes, pinceladas de sorrisos,
Abraços e laços eternos de afeto.



25.08.2009

Não há como não sujar as mãos...





Não há como não sujar as mãos...
Águida Hettwer


Acostumei-me a carregar mais do que preciso, ando feito um depósito ambulante, para sanar a qualquer emergência. Caminhei alguns passos, mas a sensação de ter esquecido algo me acompanhava e fazia-me sombras. E justamente uma de minhas pastas de “estimação” havia esquecido em sala de aula.

Retornei e como quem recebe um “não” bem no meio da cara, os portões já estavam fechados. Não me dando por vencida, chamei, acenei, apertei a campainha, na esperança de resgatar o meu pertence. Enquanto isso, eu senti algo peludo rodeando minhas pernas. Um simpático e carinhoso felino perdido da vizinhança fez-me companhia. Trocamos alguns afetos e continuei com minha incessante busca.


O guarda finalmente atendeu meu pedido, corri e resgatei minha pasta. Feliz da vida segui o meu rumo. Fez-me meditar, sobre as escolhas, mudanças e atalhos no decorrer da caminhada. Quantas vezes procuramos saída de alguma situação, e encontramos portas trancafiadas. E pessoas desestimuladas, que fazem questão de “puxar o tapete” para ver o estrondo e o impacto do corpo estendido ao chão.


Seria mais cômodo desistir, no primeiro obstáculo á vista. Ou deixar pra lá, afinal, não tinha nada de tão valioso. E assim nos acostumamos a segundo plano, a migalhas, o deixar para depois, do inverno, do verão, dos cinqüenta anos. Como se para ser feliz, tivéssemos que estar no meio de holofotes e luzes coloridas.


O que seria das velas, se não existisse escuridão, para ser anulada, com um simples acender de um fósforo. O que diria então, o pai e a mãe, quando o filho, apenas balbucia, em linguagem desconhecida na tentativa de comunicação. Há erros, que remediam as verdades, amenizam dores. Cultivam-se em solo fértil a esperança de mudança e trajetória de vida com êxito.


Não há perfeição sem erros, sem lutas e ações. Para pintar uma tela, branca e fria, não há como não sujar as mãos e encardir as unhas. Na vida não há como ser mestre, sem ter a humildade de ser aluno aprendiz.


28.08.2009

Li...




Li...

Águida Hettwer


Sentimentos entre escombros.
Lágrima dançante sobre a face,
Alvoroço nos sentidos,
Corpo dormente, sem vida...

Na releitura!

Fiz-me de indiferente,
Mas a dor que senti,
Está suspensa no vazio,
A pele sente o frio.

Arrepios de ausência,
Falta de comunicação,
As letras perderam a interação,
Na falácia de um mundo perdido.

Ah! Deveria ter virado a página,
Ou melhor
Fechado o livro!

29.08.2009

Palavra dispersa





Palavra dispersa
Águida Hettwer


Não posso mudar o mundo
Com as minhas idéias e anseios,
Mas permito-me torna-lo um pouco melhor!

No cair da tarde, sem débito.
E com os deveres cumpridos,
Reeditando a agenda do dia seguinte
A certeza de uma noite de luar.

E mesmo que a chuva venha fazer arruaça,
Nas vidraças da janela, embaçando a visão,
Com um verso novo, riscado a giz,
Soprarei ao vento doce sentimento.

Estatelando mágoas, das cobranças,
E devolução do troco do que,
Não pode ser mudado!
Sem ter a sensação de ter perdido tempo.

Sendo que as palavras, não se percam,
No vazio dos conteúdos, com uma louca ânsia,
Que não se acomoda em ombros caídos.
Não sacrifico nada! Por falta de insistência,
Na irremediável teimosia que me mantém viva!

Materializando a alma nas letras,
Dissipo-me em mil facetas,
No descuido do medo... Amo com desejo!


29.08.2009

No fio do sentimento




No fio do sentimento
Águida Hettwer


No sigilo da noite, a lua vem nos brindar,
Fio a fio, um a um, crimpando o sentimento,
No espreito da aurora para me aconchegar
Em sussurros que se esvai ao vento.

Nos acordes da tênue linha do horizonte
A saudade se desfaz enrodilhada em véus,
Em memorando, um poema sendo escrito,
Bouquet de carinhos eleva-nos aos céus.

No imenso querer!- Mãos artesãs de afeto.
Livres ecos margeiam as searas do infinito
Perfume de cerejeira á sombra do enlace.

O corpo dança em ballet, no peso dos cílios,
O pensamento toma formas em voz alta
Nos jardins suspensos d´alma.


03.09.2009

Morfemas de almas...




Morfemas de almas...

Águida Hettwer


Espreita-me a saudade no peito,
A alma expõe-se as chamas,
No suspiro, num riso, num beijo.
Evoluindo no espaço proclama.

Num ínfimo grão de silêncio
Vislumbrei o prazer de perto,
No malte aferventado do amor
Encontrei-te!No tempo certo.

Rio de emoções contorna ao longe,
Encontro de morfemas de duas almas
Clareando as auroras do sonho.

Traçando linhas em promessas,
Entrelaçando ideias em uma prece,
No fulgor do amor que não esquece.


17.09.2009

Mala velha...




Mala velha...
Águida Hettwer


No final da Rua Salgado Aranha, as ferrugens do portão denunciavam o abandono. Imóvel adquirido com sacrifício e esforço pelo avô João. Agora era de sua propriedade. Nem disfarçava a ansiedade, pois o casarão em seu interior, guardava recordações de sua infância.

Ainda ressoam vozes, risos e histórias contadas entre os cômodos da antiga casa. Memória aguçada tinha o ancião de cabelos prateados. Lembrara da riqueza de detalhes, as letras deitadas no papel amarelado, sob a mira da tênue luz que vinha do escritório, onde o avô passava maior parte do tempo.

Uma velha mala no fundo do armário, como se guardasse segredos em seu zíper. Lenços, cartas, pequenos mimos e um caderno de capa de couro, onde o tempo foi zeloso com ele. Nas páginas do diário, emoções descritas ali, em conta gotas. Anotações provavelmente escritas pela avó Adélia, antes da doença lhe consumir a alegria, onde deixara praticamente cega.

Descrevia de como se sentia feliz aos cuidados do João, pelo carinho e atenção que sempre lhe prestara. Quando lhe ajudava a atravessar a rua, segurava firmemente sua mão. As advertências para tomar a medicação em horários certos. E a paciência com que tratava o jardim, cultuando as flores das quais mais gostava.


Certamente Adélia sabia que seus dias estavam contados, e preparava com cuidado sua partida. Sofria em silêncio compartilhado, apenas com as letras. Nada mais lhe restara de importante nos últimos tempos, a não ser contemplar a face de João enquanto adormecia.


Agora entendera o porquê do avô João, passar tantas horas dedicadas à leitura.

Escrito no prefácio do diário;

João, meu eterno amor, eu sempre te amarei!

-Com amor e carinho...
Adélia.


Em uma manhã de setembro de 1965.



19.09.2009

Lenço pisoteado...




Lenço pisoteado...
Águida Hettwer


Um olhar terno por cima dos óculos, tecendo longos fios matizados, tricotando um suéter para presentear o neto, que fará dezoito anos. Na companhia de alguns bocados de pensamentos, povoando-lhe a mente. Como se espiasse o mundo lá fora, sem sair debaixo dos cobertores.


Ainda para esse terno olhar, corre um menino a frente de casa, tropeça, estatela-se ao chão. Olha para os lados, na timidez do choro, que insiste em descer. Levanta-se, sacode a poeira do basalto, e segue o rumo das brincadeiras de moleque.


Rodeada em uma aldeia de lembranças, onde muitos se foram, reatando os nos da coerência, anulando a rispidez das palavras. Dos desaforos ditos em silêncio, e pela indiferença no trato. Cai o lenço, e ninguém estende as mãos para junta-lo, por vezes ainda lhe é pisoteado.


Quisera atender um telefonema, para quebrantar a monotonia, arrumar a casa várias vezes ao dia, pela distração das crianças entre os cômodos. Limpar as manchas de dedos nas vidraças, pois assim ainda a vida lhe tinha graça. Estrear a nova receita de pudim, retirada de um site de quitutes.


As visitas cada vez mais escassas sobram-lhe pratos e copos sobre a mesa. Nos armários as validades dos mantimentos estão por vencer. Perdeu-se o viço das flores, fecham-se as cortinas, apagam-se as luzes, ofusca-se o brilho de viver.






21.09.2009

Os sonhos não se perdem em botões...




Os sonhos não se perdem em botões...
Águida Hettwer


Entretida entre prateleiras do supermercado, fiscalizando prazos de validades de alimentos, anotando preços para comparações, na lista enorme de cobranças do dia a dia. Ralhando atenção dos dois filhos, que brincam e brigam entre os corredores amontoados de gente.

Esbarrando no ombro do acaso, desculpa-se como se tivesse premeditado um crime. Vira-se e nem acredita no que vê. Amiga dos tempos do colegial, da qual trocavam confissões, roupas e acessórios. Não se viam a mais de vinte anos, desde que o pai militar, foi transferido para Brasília.

Eram tantas as perguntas que lhe rodeavam a mente, na pressa de compartilhar, que um abraço lhe foi suficiente. Pensou, e não se conteve em dizer, de como Sônia, continuava exuberante. Ela, não se apossando de nenhum queixume, contou-lhe que havia trabalhado por muitos anos em uma companhia de exportação de açúcar e hoje tem sua própria empresa.

E você! Como vai amiga?
Ana, num riso que já não lhe pertence responde;
-Vou levando a vida!

O silêncio tomou conta do lugar, apenas segurando uma mão da outra, como se revelassem segredos. Despediram-se, anotando números de telefones para novos contatos. Ana sabia que seus sonhos se perderam com os botões das camisas, e o ferro de passar alisou demais o plissar, atribuído a sua mania de limpeza.

Esquecendo-se que a felicidade não mora dentro do açucareiro. E nem se isola em caixas dos brinquedos das crianças. A felicidade repara a cor tingida dos cabelos, o desenho das flores das unhas feitas. Deixa rastros de perfume por onde passa.

Cultua uma boa aparência, nem se abala no excesso de peso. Não se apega nos detalhes. Estimula o que se tem melhor e de concreto. A felicidade, não enterra os sonhos, nos sonhos alheios. Vive para a família, mas em primeiro lugar sobrevive por si só. Se agigante para enfrentar seus medos.

Tem a ousadia no olhar, de acreditar que ainda é cedo, para concretizar planos, exercer novos cargos, concluir a colação de grau. E parar de agir, como uma “coitada”. Como se a vida, não lhe retribuísse em nada.


A felicidade não depende do cargo exercido, e sim da eficiência de como se vive.

24.09.2009

Na excelência do amor




Na excelência do amor
Águida Hettwer

Os grandes erros que efetuamos na vida, são cometidos, por impulso. Quando estamos na flor da juventude, parece-nos que tudo tem que ser para “ontem”. E na fase da vida, onde a maturidade bate á porta, as idéias estão centradas, já experimentamos o fel das escolhas mal feitas. Então descobrimos o verdadeiro sabor do mel, quando nos permitimos ser felizes em primeiro lugar com nós mesmos.

No amor, não é diferente! Por mais avassalador que seja. Mais intenso e promissor, e de grande impacto na vida de qualquer ser humano. Nada melhor, do que ter o sabor de “quero mais”. À distância nos permite isso, a saudade muitas vezes chega ser latejante. Mas é essa dor, que nos proporciona o desejo de querer estar perto a todo custo.

Quando os relacionamentos caem na beira da rotina, tudo se torna tão comum, sem sabor, chega ser de gosto insosso às vezes. Os problemas, as cobranças, as acusações bobas, são com mais freqüência. Perde-se o respeito, a dignidade, e as ofensas são ditas com tanta facilidade. Nada melhor do que aquela preparação de um casal de namorados.

Onde os cuidados são redobrados, a cada encontro é uma preparação para a cerimônia de um casamento. Somos amigos do espelho, investimos em nós mesmos, para agradar a outrem. O perfume é selecionado a dedo, renovamos a matricula da academia, pois é imprescindível estar bem na foto.

As datas comemorativas do relacionamento são comemoradas a jantar a luz de velas, regadas á flores, beijos e toques de ternura. A delicadeza sobressai, as gentilezas não são esquecidas no prato frio da rotina. E tudo é saboreado mansamente, pedindo ao tempo, um pouquinho mais, para que aqueles momentos durem uma eternidade.

Os entrelaces de mãos, buscam sintonia ao ritmo quente de um coração a pulsar. Os olhares faíscam no desejo sem controle. Quem ama na distância, não se distância nem por um segundo. A mente, o corpo e o espírito, se fundem, como num eclipse do sol e a lua.

As palavras aproximam-se do silêncio, onde há sintonia de almas. Sem necessidade de discutir a relação Tim-Tim por Tim-Tim. Afinal de contas não se apaga o passado, vive-se o intenso momento, com previsão de um futuro pleno. O tempo é um grande aliado, nos faz perceber a complexidade do amor. E amar desprovidos de regras e estatutos falidos, permite-nos amar mesmo em pólos opostos.

No amor maduro, não se compara defeitos e perfeições, cultua o simples, o doce, os pequenos gestos. Na excelência do amor, encontra-se tempo, para perceber o mais ínfimo dos detalhes. E o amor é a própria razão de existência.
26.09.2009

Defronte ao espelho...




Defronte ao espelho...
Águida Hettwer


O tempo não faz pausa e nem deleita de férias no final do ano, arduamente trabalha, na consistência dos fatos. Mesmo que a alma seja passada a limpo, em novo gabarito, ainda restarão às marcas das mentiras que contamos a nós mesmos para amenizar as dores. Defronte os espelhos, nós percebemos a decadência das ações, quando fechamos os ouvidos para não ouvir o óbvio.

Singrando as letras na encosta de um rio, em uma discussão que não leva para nenhum lugar. Admitindo a derrota dos argumentos, num fim de tarde que desmaia no poente. Na terra calada onde enterra seus mortos, murmúrios de vidas, dadas por vencidas. Nos lábios, tom de rosa envelhecido, um riso quase esquecido.

A vida, não se fecha em caixas de sapatos guardados em armários, mesmo que a dor sentida seja discretamente mascarada. E a dureza do olhar, finge indiferença, atravessa a rua para não precisar cumprimentar. Sentimos-nos frágeis objetos em mãos algozes, a alma em desassossego apanha.

Sem perder a visão da vida, rubrica com voracidade a cada página escrita, Todavia os borrões das escolhas deixaram marcas profundas. Descascando os anseios com naturalidade, como quem se despe em gomos sem perder a sensibilidade e muito menos o dito pelo não dito.

O espelho não mente, e nem inventa um personagem, revela a irreverência de um olhar, a sinceridade de um riso, e não esconde os desejos mais reprimidos. Nos espelhos, sobram motivos para as lágrimas, e a culpa, merece desculpa, pela ousadia de tentar.

Tentar sem menos repressores, e mais espontâneos nos atos, requer carga de sabedoria e maturidade, onde o tempo é um grande aliado.



05.10.2009

Trincheiras...




Trincheiras...
Águida Hettwer


No pátio da minha infância, a televisão era em preto e branco, exceto quando se usava uma película colorida para desmistificar o cinza da ilusão. Até parece que foi ontem, brincava de esconde-esconde, e “Letz” era tanta diversão nas margens da simplicidade.


Deixar os sapatos do lado de fora. Pedir bênçãos ao despertar, licença em se retirar, era pura educação. Lembro-me da primeira vez que fui ao cinema com a turma da escola Cristo Rei, ver “Marcelino pão e vinho”, e na atualidade quando assisti “Olga” obviamente que algum cisco acertou em cheio meus olhos.


Todavia na adolescência, minha timidez fazia-me atravessar a rua sem sair de casa. Ainda hoje o pensamento lavra as plantações de trigais. Apanha frutas maduras no quintal, colhe expressões angelicais de pessoas, guardadas no recôndito da memória.


Mesmo que o tempo cavalgue, não cedo as minhas convicções e verdades. Continuo lendo o jornal de trás para frente, tenho o silêncio como fiel amigo. Não enterro lembranças e nem risco nomes de listas. Percebo a maestria da vida, quando julgamo-nos fortes nas nossas limitações.


Na vida não há receituário para seguir a risca. Fazer releitura do que se passou, apenas para colocar pontos e vírgulas. Permitindo reticências para novas histórias. Nas trincheiras abertas germinam flores, mesmo que estas também contêm espinhos.



22.10.2009

O ser cidadão...





O ser cidadão...
Águida Hettwer

Quando o amor sobressai nas ações,
Não há tempo para perder,
Em premeditar o mal alheio,
O semelhante é o próprio espelho.

A alma triste chora os desenganos.
Uma mente insana, não tem remorso.
Levanta a voz, maltrata sem piedade,
Não importa com a gente, seja ela,
De qualquer idade.

Será? Que um dia a violência vai ter fim.
Deus queira que sim!
Onde há amor em abundância, há vida.
Carinhos nos gestos sem medida.

Somos parte desse universo,
Onde o progresso, tem se alastrado.
Mas com isso levado aos desmatamentos,
Os rios perderam seus contornos,
Com tanto lixo e abandono.

Ah, meu Deus! Nos meus tempos de menina,
Sonhava com um mundo colorido,
Onde não haveria mendigo,
Pedindo esmola, nem criança,
Vivendo com medo.

O que restará de herança no futuro!
Se nem os alunos, têm respeito,
E admiração aos mestres.

Não quero viver de utopias!
Preciso crer que a cidadania,
Começa bem cedo.

Com alicerces fundamentados,
No respeito mútuo.
Onde a vida deve ser preservada
A qualquer custo.


27.10.2009

No seio da esperança




No seio da esperança
Águida Hettwer



Discordo para poder voltar atrás. Sem que falem por mim, mastigo o silêncio feito alguém que tem fome e sede de justiça. Sendo órfão de mim mesma, nas letras, saio das vestes, dispo-me lentamente, deixando interrogações nas entrelinhas, cobrindo-me apenas com o poncho do tempo.

Sem adivinhar os finais dos filmes, crio e recrio personagens. O pensamento é boca entreaberta, gula do saber. Quadro negro de ilusões expostas. A caixa de sapatos guarda documentos, fotos, clipes, folhas de alento, emoções descritas em linhas tortas.

Num céu de involuntária beleza, a vida se rende aos seus caprichos. Zelosa feita mãe ao pé da cama, com o filho queimando em febre. Apontando lápis com canivete, moldando sonhos na escrita, no diário de uma família. Mesmo que por trás da objetividade existe fraqueza.

As marcas das escolhas são intransferíveis, em todo erro, a intenção foi de acertos. Em toda lágrima, não há como remediar, rolou sentimento, crença de amor para toda vida. Os sonhos não são desfeitos entre não e sim. No amor, há pausa para as reticências.

No seio da esperança amamentamos uma parte da vida. Onde a noite não furta as cores do dia. E de forma alguma há como persuadir o coração, ele tem vontade própria, não aceita abdicar de um final feliz.


01.11.2009

sábado, 21 de março de 2009

O dom de amar





O dom de amar
Águida Hettwer


O amor é uma dádiva

Revestida de sentimento,

Num voo cingido de liberdade

Que não cala a voz do tempo.

Enriquece a alma,

Traz átona avivandoSonhos adormecidos,

Na soleira do passado.

Faz-nos tolos! Diante do ser amado,

Cultivando emoções

Em primazia.

Eterniza momentos,

Em intensa volúpia,

Tresmalha fantasias,

Na alma de dois seres.
O amor carece

De desprendimento,

Ritmos ternos e sinceros,

Enleio de braços e abraços.

Beijos que calam,

Qualquer fala,

Canções enigmáticas

Que o coração entoa.

Senta-se a varanda do tempo,

Admirando e contando estrelas

Sorri o riso dos deuses.

No acalento do dom de amar...



14.03.2009

Re-leitura -Sinfonia Interrompida





Re-leitura -

Sinfonia Interrompida
Águida Hettwer



Aonde perdi o fio do pensamento,

Quebraram-se os acordes do momento,

Silenciou o canto no desencanto

Vagando o espírito no firmamento.

A alma adormecida,

Num sonho fenecido no tempo,

No rompante do dia que se vai,

Não vibra mais...

Num elo partido ao meio,

Tingiu a vida de fúnebre cor,

Calou-se a fala,

Emudeceu o riso,

Na sinfonia interrompida de amor.


11.03.2009





“Da Paz” tingiu cores,

Meu pensamento vagou nas entrelinhasDe cada traço.


Águida Hettwer



Dados da obra:

*Trabalho de análise

Disciplina: Artes

Professora: Adriana


*Poema inspirado na obra

Da artista plástica *Rosa Maria Da Paz

Segure-me a corda, por favor...





Segure-me a corda, por favor...
Águida Hettwer



Quando idealizamos algum projeto, num curto ou longo espaço de tempo, todo o universo conspira ao nosso favor, adquirimos energia suficiente para recarregar as forças. A esperança passa a ser fiel companheira dos atos, e por mais que haja mau tempo, ignoramos a sua insignificante presença. O exercer o sucesso em nossas vidas depende exclusivamente de “Buscar” o que se quer. O calor da conquista nos envolve tanto que nada perturba nosso sossego. Mas para que nós escalemos a montanha das conquistas com firmeza, alguém precisa segurar a corda, e isso lhe fará grande diferença. O suporte é a base fundamental, para que tenhamos êxito na vida. Qualquer tarefa por mais simplificada que seja ela, executada com duas cabeças pensantes e ativas, terão um resultado ainda melhor. Muitas vezes, nos deparamos com questões que precisamos resolver, uma opinião centrada naquele momento terá um efeito primordial. Levados pela emoção, muitas vezes trocamos os pés pelas mãos, fugimos das responsabilidades por medo ou insegurança. Preenchendo o coração com dúvidas sem fundamento. Que até então deleitávamos num remanso de águas cristalinas. São nesses momentos que mais precisamos de apoio, de uma mão amiga que lhe puxe a corda, e por mais sofreguidão que seja a escalada, a vitória de chegar ao topo está próxima. Lembremos nessa cena, que Você precisou “decidir” o que queria e “Buscou” incessantemente a sua vitória. Mas a mão que lhe deu apoio faz parte do seu sucesso. Cada um tem o seu dom nesse mundo, uns planejam com sabedoria, outros exercem com primazia.



10.03.2009

Senhor





Senhor...
Águida Hettwer


As janelas do amanha se abrem a minha frente,Coloco os pés no chão, dobrando os joelhos em oração,Rogando a tua misericórdia, sobre nossas vidas,Abre Senhor, a tuas asas e cobre-nos com teu poder. Sei, o quanto me ama, mesmo eu sendo tão errôneo,Entrego o meu pensar, o meu caminhar e o meu falar,Sob a tua perfeita direção, usa-me como lhe convir,Toca-me! Adentra em meu coração, transforma-me. Minh´alma tem sede de água viva, jorrada do trono,Cura-me as feridas que teimam em sangrarEntronizo-te, louvando-te! Para tua honra e glória. Reina meu Senhor! No meu viver...Vem secar o pranto, florindo em graça,Com a fé e a esperança que habita em mim.
Assim seja!



09.03.2009

Minh ´alma tocou tua alma...







Minh´alma tocou tua alma...
Águida Hettwer

Dilui-me em Ti misturando


Na mais sublime das essências,


Minh´alma tocou tua alma,


Em carinhos torneando.


Esteticamente esculpidos,


Em cada centímetro do corpo,


Em céu de amores cingidos


Embriagando-nos num sonho.


Tudo em Ti conspira dualidade,


Em turbilhões de emoções,


Numa prece adornada de afinidade.


Voam pétalas de duas cores,


Desprendendo incenso no ar,


Dois corações afervores a se amar.


07.03.2009

Estaca no tempo




Estaca no tempo


Águida Hettwer


...Há uma paisagem a deslumbrar,

Logo ali na frente, onde o frescor

Da água inunda a alma em sintonia,

Um cântico de paz entoando

entre os pássaros

E a pureza da verdade é a estaca no tempo.


05.03.2009

Dia internacional da mulher





Dia internacional da mulher

Águida Hettwer



Através dos séculos e ao longo do tempo, conquistas e vitórias se fizeram presente na história da humanidade. Entre elas tornou-se notório entre as mulheres. A batalha por igualdade de salários, cargos, direito a voto e vida digna foram vigorosos. O dito “sexo frágil” mostrou ao mundo seu potencial pleno. Mulheres de todas as idades e nacionalidades têm em comum a capacidade de amar e ceder colo, estender as mãos e ser mãe de coração de muitos. Na essência da mulher a o poder de acarinhar o que é desprezado pela sociedade e amar sem distinção. Muito que em raras vezes ela abandona seus filhos, e quando o faz, por motivos que vão além de suas forças. Podemos afirmar que são lutadoras guerreiras ao extremo na defesa de seus. Com a mesma coragem lutam de igual para igual sem esmorecer, para dar uma vida digna aos filhos. Dedicada, compreensiva, abdica de suas realizações, adormece sonhos em favor da família e nem sempre é reconhecida por isso. Quantas mulheres pelo o mundo a fora, perdem a vida em mãos de dementes, sofrem agressões corporais, verbais e pressão psicológica. Geralmente por pessoas mais próximas ou com algum parentesco. Desde a antiguidade é fonte inspiradora de poetas, pela sensibilidade e suavidade, transmitida através de seus sentimentos. Ainda temos muito a revolucionar nesse mundo conturbado em que vivemos.Somente a alma feminina transcende o amor no mais ínfimo dos

gestos...


05.03.2009

No olhar de uma mulher...





No olhar de uma mulher

Águida Hettwer


Como negar a doçura pausada,De um olhar feminino, pedindo abrigo,Carregando na pálpebra cansada,Sonhos de menina retidos. Mãos que trabalham desde cedo,Lutando por ideais justos,E a qualquer preço,No colo o amor é principal adereço. Mulheres de todas as idadesE nacionalidades, formam uma corrente,Enlaçando paz entre os homens, Em aura celeste reveste todo universo,De encanto, mesmo debruçada em fraqueza,A alma acolhe a todos com fina destreza. No olhar de uma mulher,Há uma poesia que deslumbra,Uma frase unindo rima...



04.03.2009

No colorido desse dia...



No colorido desse dia...

Águida Hettwer


Elevo o pensamento aos céus,Dou asas ao imaculado sonho,De um mundo adornado de criançasSorrindo, brincando, pregando peça na vida. Em pétalas perfumadas,Esvoaçando na sintonia do vento,Feito rima do mesmo poema,Sanando feridas, cultuando amor nos corações. Apagando mágoas, em lembranças soltas,Que anseiam por paz e união,O poder de Deus possa atrair os sedentosNa água viva da fé que hidrata o espírito. Arrancando-nos da solidão da alma,E nos plantando no caminho,De crescer e frutificar. No colorido desse dia que desponta,Deus possa ser a motivação de vida,E vida em abundância!


02.03.2009