domingo, 1 de novembro de 2009

No seio da esperança




No seio da esperança
Águida Hettwer



Discordo para poder voltar atrás. Sem que falem por mim, mastigo o silêncio feito alguém que tem fome e sede de justiça. Sendo órfão de mim mesma, nas letras, saio das vestes, dispo-me lentamente, deixando interrogações nas entrelinhas, cobrindo-me apenas com o poncho do tempo.

Sem adivinhar os finais dos filmes, crio e recrio personagens. O pensamento é boca entreaberta, gula do saber. Quadro negro de ilusões expostas. A caixa de sapatos guarda documentos, fotos, clipes, folhas de alento, emoções descritas em linhas tortas.

Num céu de involuntária beleza, a vida se rende aos seus caprichos. Zelosa feita mãe ao pé da cama, com o filho queimando em febre. Apontando lápis com canivete, moldando sonhos na escrita, no diário de uma família. Mesmo que por trás da objetividade existe fraqueza.

As marcas das escolhas são intransferíveis, em todo erro, a intenção foi de acertos. Em toda lágrima, não há como remediar, rolou sentimento, crença de amor para toda vida. Os sonhos não são desfeitos entre não e sim. No amor, há pausa para as reticências.

No seio da esperança amamentamos uma parte da vida. Onde a noite não furta as cores do dia. E de forma alguma há como persuadir o coração, ele tem vontade própria, não aceita abdicar de um final feliz.


01.11.2009

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